iPhone continua a quebrar regras no setor de tecnologia
Nos próximos dias, todo mundo ouvirá críticas sobre a falta de melhoras revolucionárias no novo iPhone. Em um evento para a mídia em San Francisco, na última quarta-feira (9), a Apple acrescentou apenas alguns novos recursos aos seus mais recentes modelos de smartphone, o 6S e o 6S Plus –o que inclui tela sensível a pressão, câmeras melhores e uma nova cor (rosa, ou "rosa ouro", no jargão de marketing da Apple).
É o mesmo tipo de queixa que surge a cada ano. O iPhone é de longe o mais importante produto da Apple –há quem o considere o produto mais lucrativo do planeta–, e para muitos analistas essa importância revela uma vulnerabilidade.
Assim, os observadores da tecnologia estão de novo imaginando por quanto tempo mais a Apple será capaz de manter a magia. Será que a empresa fez o bastante para manter a imensa vantagem que detém no setor? Será que ainda se deve esperar que o iPhone absorva praticamente todo o lucro no setor mundial de smartphones?
É hora de deixar de lado o ritual anual de preocupação sobre o futuro do iPhone. Depois de diversos anos de incerteza sobre as perspectivas do iPhone em longo prazo, está claro que as manobras da Apple posicionaram o produto em posição invejável, quaisquer que sejam os méritos de sua mais recente versão.
O domínio continuado do iPhone pode não ser uma certeza, mas na indústria da tecnologia a posição dele oferece o máximo de certeza que se pode encontrar no momento.
Se isso não o surpreende, deveria. De muitas maneiras fundamentais, o iPhone quebra as regras do mercado, especialmente as regras do setor de tecnologia. Essas regras desde praticamente sempre dispõem que os produtos se tornem constantemente mais baratos e menos lucrativos.
Isso acontece porque é fácil converter hardware em produto genérico; algo que parece mágico hoje é copiado por todos e se torna lugar comum amanhã. Foi o que aconteceu com os computadores pessoais, com os servidores, com as câmeras, com os players de música e –a despeito dos melhores esforços da Apple– é algo que já pode estar acontecendo com os tablets.
De fato, a tendência a que os produtos se tornem genéricos causou estrago no mercado de smartphones –mas não para a Apple. Nos últimos cinco anos, as vendas de aparelhos acionados pelo sistema operacional Google Android ultrapassaram em muito as de aparelhos da Apple, e agora respondem pela vasta maioria dos smartphones em uso.
E O ANDROID?
Há anos os observadores preveem que o crescimento da fatia de mercado do Android resultaria em queda de lucro para a Apple (e lucros, não fatia de mercado, são o objetivo de um negócio.) Se isso tivesse acontecido, teria sido parecido com a forma pela qual os computadores padrão PC equipados com o Windows eclipsaram a Apple e o seu Mac.
"Ei, Apple, acorde, está acontecendo de novo", alertou Henry Blodget, da Business Insider, em 2010. O alerta foi repetido em 2011, 2012, 2013 e 2014.
Nenhuma dessas previsões se comprovou. Embora o crescimento nas vendas do iPhone tenha se desacelerado em 2013 e 2014, no ano passado terminou se recuperando e atingindo níveis quase recordes, e os lucros da empresa continuam nas alturas.
Em vez de matar a Apple, o avanço dos produtos genéricos causou algo de mais estranho: paralisou o principal concorrente da empresa nos smartphones, a Samsung, que até o ano passado vinha conquistando um pouquinho mais de lucro a cada ano no setor de smartphones. Em seu pico, na metade de 2013, a Samsung estava ficando com quase metade dos dólares no setor de smartphones, de acordo com o grupo de pesquisa Canacord. (A outra metade ficava com a Apple.)
Mas a ascensão de smartphones Android mais baratos e de ótima qualidade produzidos por empresas chinesas iniciantes como o Xiaomi –e a disparada na popularidade dos iPhones de tela maior– colocou a Samsung em uma enrascada. Em julho, a companhia reportou seu sétimo trimestre consecutivo de queda de lucros.
A mais recente estimativa da Canacord mostra a Samsung obtendo 15% dos lucros dos smartphones, com a Apple obtendo 92%. (A soma supera os 100% porque todos os outros fabricantes do setor ficam no vermelho, de modo que sua parcela dos lucros é negativa.)
A evolução do iPhone
Pode-se esperar que a fatia da Apple venha a crescer. Um analista do Credit Suisse explicou em nota na semana passada que até agora apenas cerca de 30% dos 400 milhões de usuários de iPhones no planeta trocaram seus modelos pelas versões de tela grande introduzidas no ano passado. A Apple arrecadará ainda mais dinheiro quando os usuários inevitavelmente fizeram a transição para telas maiores, nos próximos anos.
Em outras palavras, pelo futuro previsível a Apple está virtualmente sozinha: ela talvez seja a única empresa que ganha dinheiro vendendo celulares.
O que ajuda o iPhone a escapar da armadilha do hardware genérico é que se trata de mais que um simples hardware. Em vez disso, o iPhone é um mix estreitamente integrado de hardware, ótimo software e diversos serviços muito bons incorporados em um único aparelho.
STATUS
Mas o iPhone não é só o que ele faz, mas o que significa para seus usuários, e isso é produto direto da maneira esperta pela qual a Apple projetou e comercializa o produto, de forma a despertar luxúria. Como apontou o jornalista Ben Thompson, o iPhone de muitas maneiras é um "bem Veblen", o termo econômico para um produto cujo preço elevado na verdade o torna mais desejável.
A resistência da Apple a vender celulares baratos, assim, pode alimentar seu sucesso. Os revendedores do iPhone na Ásia, por exemplo, dizem que para muita gente, iPhones de preço mais baixo –mesmo que usados– são vistos como mais desejáveis do que aparelhos Android mais novos e mais poderosos, mas mais baratos.
Em grandes porções do planeta, assim, o iPhone é símbolo de status, o que não significa que seja frívolo –ao contrário de um terno Prada, o iPhone é um símbolo de status que o usuário descobrirá ser muito útil.
É claro que a estratégia da Apple é vulnerável a choques imprevisíveis. A Apple está apostando em um mundo mais afluente para se manter no azul. Se a ascensão à afluência sofrer um baque –se a economia chinesa despencar, por exemplo, ou se os salários estagnados dos países ocidentais, em longo prazo, reduzirem a disposição dos consumidores de gastar muito com seus celulares–, o iPhone sofrerá.
Isso explica porque Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, se apressou a reassegurar os investidores quanto à posição da companhia na China, durante a recente crise do mercado chinês.
Por enquanto, porém, é difícil conceber uma maneira específica pela qual o celular da Apple possa cair diante dos rivais. Oito anos depois do lançamento, o iPhone venceu o maior jogo do planeta –e continuará vencendo.
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